Thursday, April 24, 2008

O jogo

Estou a ver a Grande Entrevista na RTP a Rui Rio.

Ficou tudo dito. A verdadeira assimetria entre as chamadas elites e bases partidárias. Rui Rio tem toda a razão.

Quando se escolhe o líder do PS ou do PSD está-se a escolher o potencial 1º Ministro. Eu julgo que um 1º Ministro tem de ser alguém com uma estatura política e ética diferenciada.


Luís Filipe Menezes não tem. Santana Lopes não tem. Pedro Passos Coelho não tem. E já agora, Alberto João Jardim também não.

Manuela Ferreira Leite tem. Não estou a dizer que gostaria de a ver como 1ª Ministra, nada disso, pelo contrário. Mas consigo imaginá-la nessa função dignamente, sem transformar o País num circo...
O problema do PSD é ideológico. O PSD nunca teve ideologia. É uma partido de Direita onde cabe tudo, e dão-se todos muito bem se estiverem no Poder. Quando não estão... essa é a história deste partido.

E as fricções destes últimos 3 anos vêm da ansiedade das bases - aqueles que dependem que o seu partido esteja no Poder - e a concepção da elite do Partido (que também depende do Poder, mas de forma mais sofisticada...).

Mesmo que encontre um bom líder, e não me parece que seja com MFL, pois será apenas de transição - e vamos ver se Santana não ganha as directas!! - também não me parece que Portugal tenha grande futuro com o PSD.

Precisamente pelo que disse há pouco - não tem um fio ideológico, não tem uma concepção de sociedade. Tem uma concepção de poder, interpretado pelas suas elites, e desbastado pelas suas bases... com Cavaco Silva resultou porque tudo estava para ser feito neste País. Não é preciso ser direita ou de esquerda para decidir que se deve construir auto-estradas, infra-estruturas básicas, etc etc. Como Ângelo Correia disse, e muito bem no Prós e Contras - Cavaco foi um grande gestor - e um eucalipto - secou o partido.

O Governo de Durão Barroso - um desastre antes da sua "fuga" para Bruxelas - é a prova irrefutável disso. Ainda havia muito para fazer, mas já era necessário uma concepção de sociedade para fazer o País andar para a frente - numa época de globalização, concorrência, aumento de poder das instâncias comunitárias, etc. Era preciso pensar o País. Ou para um lado ou para o outro. Para algum lado! E o PSD não era capaz. Mais uma vez o Governo de Durão Barroso era um conjunto de gestores, competentes, mas com poucas ideias para o País.

E o PS também precisa de reflectir sobre isto, pois começa a cair no risco de Sócrates chupar igualmente a vitalidade interna do partido - e em 2013, se não antes, também entrará em convulsão.

PS: e já agora, o caminho que acho que Portugal deve seguir é uma política mais igualitária - reforçar o Estado Social - significando isto dar confiança aos seus cidadãos. Confiança que têm um serviço de saúde público que os pode acolher, um sistema de segurança social público que os possa proteger, e um sistema de regulação dos diversos mercados económico-financeiros que os façam prosperar equalitativamente - ou seja, que não se aumente o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, sem pôr em causa a competitividade do País no mundo globalizado. Tudo isto aliado a boa governação/gestão: finanças públicas em ordem, apoio ao investimento privado, um sistema educativo competente, entre várias outras coisas, que deviam fazer o normal funcionamento do Estado. Considero que entre os seus muitos defeitos, o actual Governo está nesse caminho. Não consigo vislumbrar que caminho o PSD quer, excepto tudo o contrário daquilo que defendo.

1 comment:

Anonymous said...

Acho que mais importante que qualquer alteração que se possa fazer em termos politicos e/ou de gestão da causa pública, o necessário está na alteração epistemológica inerente ao tempo em que vivemos. JFK dizia "não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta antes o que tu podes fazer pelo teu país". Penso que essa alteração ideológica deverá ser transversal a toda a sociedade.
Temos um país sedento de QREN's e mais PRODEPS e outros quadros de apoio e quando acabam o que sobra?? NADA... Foi só o país/europa a fazer por nós e depois somos os coitadinhos que nem temos onde caír mortos e até já a Espanha nos ultrapassou e a Irlanda, a culpa é dos políticos, que nunca nos ensinaram a fazer pelo país, mas mesmo assim continuamos a votar nos mesmos...
Que se pode fazer numa sociedade onde se dá mais valor ao que melhor sabe roubar do que ao que melhor sabe trabalhar? onde a meritocracia é uma visão longínqua e o que interessa é chegar a casa no fim do dia com os 10 tostões das 8h e ligar o telejornal para vêr a Maddie e o Glorioso. A TV dá as ordens, eu cumpro, as estatísticas fornecem a única realidade necessária para o poder, pois o poder é tão mesquinho que precisa do poder para se alimentar.
Entendem que não passa por partidos nem pessoas, passa por uma alteração na maneira de pensar e de agir, quer pessoal, quer socialmente.