Tuesday, October 20, 2009

O nuclear anda por aí...

Uma intervenção recente de Ramalho Eanes na Figueira da Foz a favor da energia nuclear deu o mote para mais uma onda de "debate".
Ontem um artigo de opinião no Jornal de Negócios de um consultor espanhol da Bain & Company deu substracto a esta tentativa, e hoje novamente uma entrevista no jornal i a Ramalho Eanes sobre o assunto.
No que toca a Ramalho Eanes, como ex-Presidente da República há que respeitar a sua opinião e ter algum pudor na reacção.

Já as consultoras não trabalham de borla, e um espanhol não escreve num jornal português por favor ou boa vontade...

O artigo de Ignacio Rios é quase um benchmark (pareceu-me bem utilizar "consultorês") da cartilha dos defensores da energia nuclear em Portugal. A sua ideia de fundo é que a energia nuclear permitiria reduzir o défice energético português, reduzir as importações, reduzir a nossa dependência do estrangeiro, etc.

Primeiro tenta fazer uma comparação com o que outros países europeus estão a fazer, ou a pensar fazer, na questão nuclear. Os exemplos com que nos prenda, Reino Unido, Alemanha e Suécia, são como se sabe países com imensas semelhanças com Portugal, particularmente na geografia e demografia... adiante.

O Reino Unido, Alemanha e Suécia, citados no artigo, sendo países com um clima mais rigoroso (e eu bem estou a senti-lo!) têm um consumo energético particularmente elevado necessário para o aquecimento das casas. Quando se deu a alta de preços do crude e do gás natural sentiram naturalmente um grande impacto na balança de pagamentos, e é natural que vejam o nuclear como uma alternativa.

Não foi o caso de Portugal.

O boletim nº5 de Maio de 2009 do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia (pode ser lido aqui) analisa o Preço da Energia e o Défice da Balança Energética em Portugal no período de 2000 a 2008.

E resumidamente o que conclui este estudo: após um aumento acumulado de 10% entre 2000 e 2005, a dependência energética entre 2006 e 2008 DIMINUI cerca de 15% !!

Isto resultou numa poupança de importação de energia de cerca de 1% do PIB português.

Mesmo no período em que crude e gás natural atingiram preços record e provocaram pânico no Mundo inteiro, Portugal consegui poupar na factura energética.

Como bom consultor que deve ser, tendo que justificar o que lhe pagam, o senhor Rios no seu artigo faz um malabarismo na estatística. Refere que em 2006 a dependência energética era superior a 85%, e que em 2008 o saldo importador de enrgia eléctrica foi de 19%. Refere somente estes números, em 2 anos completamente diferentes.

Esqueceu-se de acrescentar que em 2006 a dependência energética diminui quase 12% em relação ao ano anterior, e que em 2008 a importação de energia diminui cerca de 12,5%.

Eu ficaria por aqui, mas temos de passar à componente política da coisa... o Governo liderado por José Sócrates, iniciou funções em 2005 tendo como um dos pilares da sua estratégia a aposta nas energias renováveis e na eficiência energética. Os resultados estão comprovados.

E vai melhorar muito mais - com o novo plano de construção de barragens, os painéis solares nas casas e edifícios, os projectos que estão surgir da energia das ondas, as plataformas eólicas offshore, etc etc. Uma realidade do presente, que irá trazer benefícios hoje.

Portugal é um exemplo mundial nas renováveis, está a criar uma indústria inovadora, a formar quadros qualificados, está a apostar numa área de futuro para as próximas gerações. Foi uma decisão política, foi uma boa decisão do Governo Socialista.

Não é por acaso que o debate do nuclear é provocado sistematicamente por personalidades de Direita, que tentam encontrar uma alternativa programática ao PS, para além dos óbvios interesses empresariais...

A produção de energia nuclear não é necessária no nosso País, sendo um dos principais problemas a questão dos resíduos, que não têm solução, além de que a tecnologia necessária teria de ser toda importada.

Fez-se uma opção estratégica (esta também vem do dicionário "consultorês") nas energias renováveis e há também que promover ainda mais a eficiência energética dos edifícios, onde virá uma grande poupança de energia.

E nunca é demais recordar a grande aposta que se está a preparar na introdução dos carros eléctricos. Esta pode demorar mais tempo, mas virá. Teremos certamente um País ambientalmente mais responsável e economicamente menos dependente do crude estrangeiro.

Quanto ao Nuclear - Não obrigado.

Tuesday, October 13, 2009

Exemplo

A foto ao lado foi tirada e publicada pelo autor do blog Máquina Especulativa.

Nela podemos ver Jorge Sampaio, ex-Presidente da República Portuguesa a servir mais uma vez o País com humildade e dedicação, numa mesa de voto em Lisboa nas últimas eleições autárquicas.

Um exemplo e um orgulho podermos testemunhar portugueses desta categoria.

Friday, October 9, 2009

Egos

Honestamente não sou uma pessoa muito interessada em literatura, nas questões editoriais, nos autores, etc etc. Sou o que se pode chamar um leitor espontâneo, se encontrar algum livro que adivinho que me possa agradar, compro-o, independentemente do género. Não tenho autores favoritos, conheço no geral os principais escritores portugueses, fico-me por aí. Cultura literária muito mediana, to say the least... no entanto fico orgulhoso, principalmente estando fora do País quando leio notícias sobre os nossos escritores, prémios que vão conquistando, por aí fora. Sou português e isso bastaria.

Mas de vez em quando uma pessoa lê críticas como esta de Eduardo Pitta, a uma biografia de António Lobo Antunes, e realmente cria sentimentos opostos ao de admiração, para não dizer logo desconsideração, por supostos "nobelizáveis", e arautos da cultura portuguesa... Se Lobo Antunes afirma todas essas coisas nas entrevistas que dá, é de facto uma ave rara, pelas piores razões... o post é esclarecedor...

Claro que não vou comprar a biografia. Lobo Antunes tem obviamente uma vida demasiado interessante para ser lida por outros...

Peace Nobel