Mais do que o discurso em si, que foi excelente e do qual já escrevo algumas palavras em baixo, foi o evento no estádio dos Denver Broncos que me deixou completamente boquiaberto.
Como é que é possível 80.000 pessoas se juntarem, encherem um estádio, mais 38 milhões a assistirem na televisão, para ouvir um candidato discursar. Foi completamente de outro Mundo.
Barack Obama está de facto a mexer com a América. É o resultado de termos um candidato fresco, excelente oratória, com as ideias certas no momento certo - os americanos estão fartos de Bush e das políticas falhadas do Partido Republicano. Estão fartas de ver a economia a desacelerar, preços da gasolina a aumentar, desemprego, crise hipotecária, crise energética, conflito armado no Médio Oriente ad eternum, desigualdades sociais a aumentarem, falta de protecção social e na saúde, etc etc.
E Obama descreveu isso mesmo no seu discurso. Atacou forte os Republicanos, criticou intensamentre McCain/Bush e apresentou um conjunto de quase 30 medidas concretas com que pretende mudar o cenário económico e social.
Foi um discurso à altura da ocasião. Obama é realmente um fantástico orador, que capta a atenção das pessoas. O discurso foi muito bem escrito, e tocou naquilo que os Democratas necessitavam nesta altura da campanha.
Dar a conhecer melhor o background familiar de Obama, mostrando que ele também vem de uma família da classe média-baixa, e sabe quais são os problemas com que se debatem as pessoas. O seu percurso de baixo para cima, sendo criado pela mãe e os avós, chegando até Harvard e optando posteriormente por trabalhar no serviço à comunidade. Portanto a mensagem foi: eu sou um de vós, sei porque estão a passar, e sei lutar contra as adversidades.
Era necessário segurar o eleitorado operário, os blue-collar workers, os sindicalistas, as donas-de-casa, no fundo as pessoas mais sujeitas aos problemas da crise económica. E julgo que o Partido Democrata conseguiu. Não só com o discurso de Obama, mas também de todos aqueles que o antecederam - os Clinton fizeram um excelente papel.
E mostrou que Obama consegue fazer frente a McCain, herói da guerra do Vietname, sem se intimidar, bem pelo contrário.
Não há dúvidas que o COngresso foi um sucesso, e deu um grande balanço a Obama. Vamos ver se os Democratas conseguem descolar de vez, ou se o Congresso Republicano esta semana irá anular o efeito mediático de Obama esta semana.
Para já, a atenção que a nova nomeada para o ticket Republicano está a ter é mau sinal. Tenho para mim que é apenas passageiro, e fruto na novidade. Sarah Palin é uma mulher com muito bom aspecto, parece que não discursa mal, tem os valores conservadores (e retrógrados...) que os Republicanos adoram - mas tenho para mim que este estado de graça não vai durar muito. Bastará uma gaffe ou um qualquer escândalo e fica tudo estragado.
E McCain perdeu o seu maior trunfo - a crítica à falta de experiência de Obama. A nomeação de Sarah Palin foi uma fuga para a frente, e julgo ter tudo para a falhar, assim os americanos queiram - alguém consegue imaginar mais 4 anos disto, com uma vice-presidente a favor da posse de armas, a favor da exploração dos recursos naturais no Alasca, contra o aborto, sem perceber o que é que o conflito no Iraque significa. Cujo currículo foi ser Mayor de um sítio com 7.000 habitantes, e só há 2 anos é Governadora... sendo que esta senhora poderá ser nomeada Presidente caso aconteça alguma coisa a McCain. Eu julgo que, apesar de tudo, os americanos não são assim tão idiotas...
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