No que toca a Ramalho Eanes, como ex-Presidente da República há que respeitar a sua opinião e ter algum pudor na reacção.
Já as consultoras não trabalham de borla, e um espanhol não escreve num jornal português por favor ou boa vontade...
O artigo de Ignacio Rios é quase um benchmark (pareceu-me bem utilizar "consultorês") da cartilha dos defensores da energia nuclear em Portugal. A sua ideia de fundo é que a energia nuclear permitiria reduzir o défice energético português, reduzir as importações, reduzir a nossa dependência do estrangeiro, etc.
Primeiro tenta fazer uma comparação com o que outros países europeus estão a fazer, ou a pensar fazer, na questão nuclear. Os exemplos com que nos prenda, Reino Unido, Alemanha e Suécia, são como se sabe países com imensas semelhanças com Portugal, particularmente na geografia e demografia... adiante.
O Reino Unido, Alemanha e Suécia, citados no artigo, sendo países com um clima mais rigoroso (e eu bem estou a senti-lo!) têm um consumo energético particularmente elevado necessário para o aquecimento das casas. Quando se deu a alta de preços do crude e do gás natural sentiram naturalmente um grande impacto na balança de pagamentos, e é natural que vejam o nuclear como uma alternativa.
Não foi o caso de Portugal.
O boletim nº5 de Maio de 2009 do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia (
pode ser lido aqui) analisa o Preço da Energia e o Défice da Balança Energética em Portugal no período de 2000 a 2008.
E resumidamente o que conclui este estudo: após um aumento acumulado de 10% entre 2000 e 2005, a dependência energética entre 2006 e 2008 DIMINUI cerca de 15% !!
Isto resultou numa poupança de importação de energia de cerca de 1% do PIB português.
Mesmo no período em que crude e gás natural atingiram preços record e provocaram pânico no Mundo inteiro, Portugal consegui poupar na factura energética.
Como bom consultor que deve ser, tendo que justificar o que lhe pagam, o senhor Rios no seu artigo faz um malabarismo na estatística. Refere que em 2006 a dependência energética era superior a 85%, e que em 2008 o saldo importador de enrgia eléctrica foi de 19%. Refere somente estes números, em 2 anos completamente diferentes.
Esqueceu-se de acrescentar que em 2006 a dependência energética diminui quase 12% em relação ao ano anterior, e que em 2008 a importação de energia diminui cerca de 12,5%.
Eu ficaria por aqui, mas temos de passar à componente política da coisa... o Governo liderado por José Sócrates, iniciou funções em 2005 tendo como um dos pilares da sua estratégia a aposta nas energias renováveis e na eficiência energética. Os resultados estão comprovados.
E vai melhorar muito mais - com o novo plano de construção de barragens, os painéis solares nas casas e edifícios, os projectos que estão surgir da energia das ondas, as plataformas eólicas offshore, etc etc. Uma realidade do presente, que irá trazer benefícios hoje.
Portugal é um exemplo mundial nas renováveis, está a criar uma indústria inovadora, a formar quadros qualificados, está a apostar numa área de futuro para as próximas gerações. Foi uma decisão política, foi uma boa decisão do Governo Socialista.
Não é por acaso que o debate do nuclear é provocado sistematicamente por personalidades de Direita, que tentam encontrar uma alternativa programática ao PS, para além dos óbvios interesses empresariais...
A produção de energia nuclear não é necessária no nosso País, sendo um dos principais problemas a questão dos resíduos, que não têm solução, além de que a tecnologia necessária teria de ser toda importada.
Fez-se uma opção estratégica (esta também vem do dicionário "consultorês") nas energias renováveis e há também que promover ainda mais a eficiência energética dos edifícios, onde virá uma grande poupança de energia.
E nunca é demais recordar a grande aposta que se está a preparar na introdução dos carros eléctricos. Esta pode demorar mais tempo, mas virá. Teremos certamente um País ambientalmente mais responsável e economicamente menos dependente do crude estrangeiro.
Quanto ao Nuclear - Não obrigado.